FAMÍLIA RODELLA
SÉRIOS PROBLEMAS E POUCAS INFORMAÇÕES
Eu tinha 11 anos e iniciava o curso ginasial quando no pátio da escola um rapaz bem mais velho me abordou e começou a fazer gracejos sobre meu sobrenome. Logo um grupinho de outras crianças se juntou para assistir a cena e o tal rapaz animou-se, tornando-se mais agressivo, pois tinha um publico. Ele foi avançando e eu, sem entender muito bem a razão de tudo aquilo, fui retrocedendo até ficar encurralado num canto do bebedouro. A coisa parecia nao acabar mais, fazendo-me sentir literalmente num beco sem saida. E então, com uma ousadia inexplicavel, dei uma forte bofetada na cara do sujeito. Eu só ouvi ele dizer: EU VOU MATAR VOCE MOLEQUE!!. Esperei por um forte murro na cara mas nada aconteceu, pois agora era ele motivo do riso da platéia. Enfim, sobrevivi..
Nunca mais precisei bater em ninguem por problemas com meu sobrenome, mas sempre havia um certo estranhamento quando eu declarava meu nome completo pela primeira vez para alguem desconhecido. Então adotei uma estratégia para as coisas fluirem mais rápido. Imediatamente após dizer meu nome eu sempre acrescentava em tom enérgico: é RODELLA com dois eles...Isso de alguma forma facilitava as coisas
Nao eram tempos politicamentes corretos aqueles da década de 1960 e tive que ouvir gracinhas até mesmo de professores. Mas também havia vantagens: nunca tive apelidos; o sobrenome era facilmente lembrado e imediatamente relacionado a uma família de gente honesta, o que abria portas com facilidade.
Eu ouvia dizer apenas que meu nono
Luciano tinha vindo de Vicenza para o Brasil com seus pais e nada além disso.
Pensava no início que se tratava da cidade de Vicenza, embora isso não fizesse
muito sentido, uma vez que havia indícios da família Rodella trabalhar em atividades
agrícolas. Logo descobri que Vicenza também era o nome de uma província, e ele
podia ter nascido em alguma daquelas 122
comunes que a compunham e cujos nomes, contudo, não faziam o menor sentido
para mim. ORIGENS O sobrenome RODELLA atualmente se
concentra nas províncias indicadas a seguir.
O nome Antrondellus aparece por volta de 1200 e nos anos seguintes
já se grafava Rodellus. Um registro paroquial na comune de Collebeato,
perto de Brescia, mostra o nome Rodella em 1487
Uma fonte cita o nome Rodella como original do território de Bergamo na região da Lombardia,
e da mesma origem dos Rodella de Sacile, com grande incidência nas cidades de
Ghedi, Montichiari, Padova e Bassano. O ducado iniciado em 10 de Fevereiro de
1428, obteve a aprovação de seu antigo lugar de origem. Transfere-se para
Bassano em 1537. Em 26 de maio de 1755, o rei Augusto III da Polônia concede o
título de Conde a Paolo Rodella, capitão de sua guarda, com a transmissibilidade
ao irmão Angelo e seus descendentes de ambos sexos. Título confirmado pelo
Senado Veneto em 3 abril 1756. O título foi reconhecido pelo decreto real de 16
de fevereiro de 1868 do comandante do Reino da Itália. O nome aparece com
destaque em algumas ocasiões. Giovanni Battista Rodella
(1749-1834) foi relojoeiro e construtor de equipamentos de renome internacional
em Pádua Foi mecânico (Regio Machinista), construtor do relógio do duomo
de Pádua chamado Specola di Padova. Em 23 de março
de 1944, durante a segunda guerra mundial, grupos da resistência italiana atacaram
uma coluna de policia alemã matando 32 soldados na via Rasella em Roma. No dia
seguinte, os nazistas executam em
represália 335 civis italianos, homens entre 14 e 75 anos, dos quais 70 judeus,
em uma caverna na via Ardeatine, no episódio que ficou conhecido como Massacre
das Fossas Ardeatinas. Os civis executados foram recrutados entre suspeitos de
atividades de resistência, que estavam nas prisões em Roma. Entre esses estava Bruno Rodella de 27 anos. Pela Internet
se pode encontrar muitos Rodella: um cantorzinho brega, um escultor com obras muito
bonitas, cientistas, médicos professores,
políticos e, enfim, ate um policialzinho preso por corrupção nos EUA.... VILLAVERLA Os
Rodella eram de Vicenza sim; mas eram da província de Vicenza. O nome da comune
de Villaverla apareceu muito mais tarde nas minhas pesquisas, mas foi o
primeiro local com registros dos meus antepassados da família Rodella.
Em
geral, a partir de 1871 é possível consultar os registros civis dos arquivos
das comunes italianas, muitos deles dispondo de índices que facilitam as buscas. Ler esses índices é como
consultar uma lista telefônica em São Paulo, pois os sobrenomes nos parecerão
muito familiares. Antes dessa época, deve-se consultar os arquivos das paróquias
e dioceses católicas, cujo acesso é complicado, pois, não se trata de
repartições públicas. Entretanto fui decisivamente auxiliado pela Arquidiocese
de Vicenza, Alem disso, no breve período de 1806 a 1815, o Vêneto esteve sob o
domínio napoleônico, que instituiu o registro civil. Consultando os microfilmes
de 1811 a 1815, fornecidos pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos
dias, encontrei o registro de vários membros das famílias Rodella e Berlato O
primeiro nome conhecido é Angelo Rodella (~1755-?), meu 5o. avô, pai de
Giovannni e Bortolo Rodella (~1788-?). Nota-se
a tradição italiana de se dar ao primeiro neto o nome do avô, o que pode causar
uma grande confusão na busca aos antepassados. O
4o. avô, Giovanni Rodella (~1779-?), casado com Teresa Vettorelli (~1780-?) foi
pai de Angelo Rodella, meu trisavô (ou taravô), nascido em Villaverla em 12 de Junho de 1807. Angelo
Rodella casou-se 15 de Fevereiro de 1827 com Santa Berlato e tiveram pelo menos 11 filhos nascidos entre 1827 e aproximadamente 1850. Dentre esses, Antonio
e Bartolomeo (Bortolo) Rodella, meu bisavô, emigraram juntos para o Brasil. A
tataravó Santa Berlato nasceu em 26 de maio de 1807, em Villaverla, sendo filha
de Antonio Berlato (~1786-?) e Margherita Casarotto. Existia a variação de Berlato
para Bellato, mas em vista dos registros consultados a primeira opção é a correta.
Na realidade, é provável que Berlato seja uma corruptela de Verlato, nome que
estaria diretamente ligado à origem de Villaverla, Meu
bisavô Bortolo, nasceu em Villaverla em 9 de novembro de 1847, data que consta
da sepultura do mesmo em Piracicaba. GRUMOLLO
DELLE ABBADESSE
Voltando as comunes
de Vicenza, a solução para descobrir o lugar de nascimento do nono Luciano foi
escrever e enviar 122 e-mails. Aos poucos, chegaram as respostas non risulta, uma atrás da outra.
Sobraram cerca de 20 comunes que não
responderam, a solução foi buscar ajuda especializada e pagar caro. Foi assim
que apareceu o nome Grumolo delle Abbadesse, um centro agrícola de planície que se encontra a cerca
de 12 Km a leste de Vicenza, A agricultura é baseada nos
cereais e forragens, com numerosas criações de bovinos e suínos.
E possível que
Angelo Rodella e Santa Berlato, juntamente com os filhos tenham se mudado para Grumolo
delle Abbadesse por volta de 1850 onde pode ter até nascido mais algum filho
do casal, como uma certa Maria Rodella, a qual somente pôde ser conhecida
porque foi um registrado um filho dela natimorto, e de pai desconhecido. A
família Rodella morava na contrada Rasega, que atualmente é uma frazione
da comune de Grumolo delle Abbadesse Bortolo
Rodella meu bisavô se casou em 21 de setembro de 1873 em Grumollo delle Abbadesse
com Luiggia Feltrin, nascida em 30 de junho de 1852 nessa comune. Nessa altura Santa Berlato ja era falecida
mas Angelo Rodella ainda vivia. A família Feltrin era mais antiga daquela comune.
Foto do bisavô,
Bortolo Rodella (1847-1928), em data desconhecida, talvez tirada na Itália
antes da partida para o Brasil em 1891.
Maria Luigia Feltrin era filha mais nova de Gaetano Feltrin, nascido em 7 de agosto de 1810, e de Fiorenza Foralosso, nascida em 29 de maio de 1816, ambos em Grumolodelle Abadesse. Lá também eles se casaram em 25 de novembro de 1841 e tiveram, alem de Maria Luigia, os filhos: Bartolomeo (1842), Constantina(1844), Elizabetta (1847), Giacinto (1847), Antonio (1851). Os pais de Gaetano eram Giuseppe Feltrin e Maria Ascaro e os pais de Fiorenza eram Antonio Foralosso e Pellegrina Villan
Segundo consta, Bortolo e
Luigia tiveram vários filhos, mas, como era comum na época, poucos
sobreviveram. O primeiro, para não fugira regra, foi de chamado Ângelo, nasceu
em 4 de novembro de 1873 e durou apenas 25 dias.
.
EMIGRANDO PARA O BRASIL
O
vapor Matteo Bruzzo, de 3919 toneladas foi construído em 1882 para
proprietários franceses com o nome de Golconde. Navegou para M. Bruzzo
& Co com o nome de Matteo Bruzzo de uma data ignorada até 1899, quando foi
transferido e teve o nome alterado para Citta di Genova. Acabou desativado em
1907. Na época em que a família Rodella emigrou pertencia à
companhia La Veloce Navigazione
Italiana a Vapore, fundada in 1884
para prestar serviços entre a Itália e América do Sul.
Vapor Matteo Bruzzo
Esse
vapor se encontra citado em relato sobre as duras condições em que viajavam os
imigrantes italianos ao Brasil:
"No vapor italiano Matteo Bruzzo, a
cólera se alastrou, em caráter epidêmico no decorrer dos últimos dias de
novembro de 1884. Segundo telegrama proveniente de Angra dos Reis, cadáveres de
coléricos foram arrojados à praia. Diante de situação tão grave, a diretoria da
Sociedade Central de Imigração fazia um apelo dramático aos poderes públicos,
através da imprensa, dizendo que a decomposição dos cadáveres que iam dar à
praia, expostos às ardências do sol e à voracidade dos peixes, os quais
constituíam parte básica das populações do nosso litoral, eram rápidos
portadores da peste e, portanto rigorosas medidas de higiene deveriam ser
tomadas."
PIRACICABA, SP
- INICIANDO A VIDA NO BRASIL
Segundo
consta, a família Rodella trabalhava na Itália com agricultura. Ao chegarem ao
Brasil, foram trabalhar na Fazenda Milhã, em Piracicaba, hoje município
de Saltinho, SP, então uma grande propriedade agrícola. Pertencia na época e
ainda hoje, mas em área reduzida, à família Ferraz de Arruda.
Na
Itália, Bortolo é citado como sendo ora oleiro, ora agricultor. É possível que
tenha vindo para trabalhar como oleiro na Fazenda Milhã onde havia uma olaria.
Nos anos de 1899 e de 1900, Bortolo Rodella adquiriu, respectivamente, um terreno e uma pequena chácara limitada pela estrade ferro Sorocabana, no Bairro Verde em Piracicaba. Nesta chácara estava a olaria da família Rodella onde foram fabricados tijolos para muitas construções de Piracicaba. Essas compras exigiram 3,3 contos de reis, que corresponderiam a 10 anos de salário de um trabalhador rural no início do século XX. Como imagino que os Rodella fugiram da miséria em que viviam na Itália, essas aquisições após 8 anos da chegada ao Brasil, significaram um belo progresso, sem dúvida.
Mais tarde, talvez a partir de 1928 ano da morte de Bortolo, a família do nono Luciono mudaria para outra chácara em frente à Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, na Avenida Independência, no então número 110.
Quanto aos filhos de
Bortolo e Luigia, nasceram todos em Grumolo delle Abbadesse. A existência da
filha Carolina era completamente desconhecida na família e seu nome só apareceu
na lista existente na Hospedaria dos Imigrantes (livro 031, página 79). Por aí
se tem idéia dos tempos difíceis enfrentados, pois Carolina deve ter falecido
logo após a chegada ao Brasil e, quem sabe, sepultada na própria fazenda onde
os Rodella se estabeleceram. Não se tinha tempo de prantear os mortos e ela foi
esquecida. Antonio Rodella, irmão de
Bortolo, nasceu por volta de 1837 e faleceu em Piracicaba, SP, em 1909.
A filha Santa nasceu em
29 de Setembro de 1875 e faleceu em 15 de Janeiro de 1943. Casou-se com Felicio
Molon.
Bortolo faleceu em 6 de Agosto de 1928 e
Luigia faleceu, em 3 de Dezembro de 1936, ambos em Piracicaba, SP.
Meu nono, Luciano Angelo Rodella,
nasceu em 15 de Outubro de 1878 na comune de Grumolo delle Abbadesse, e se casou em 20 de
setembro de 1906 com Caterina Giuseppina Braggion e tiveram sete filhos: Aurora, Bortolo, Antonia,
Antonio, Ângelo, meu pai, Maria e Francisco
Luciano
faleceu em Piracicaba em 24 de Janeiro de 1959
Meus nonos:
Catherina Giuseppina Braggion e Luciano Rodella.
Esta foto é de 1906 e ela esta grávida
da primeira filha Aurora
Meu pai, Angelo Rodella, nasceu em 24 de Dezembro
de 1919, se casou com Dalva Passini em 24 de Maio de 1949 e faleceu em 30 de Março
de 1985, sempre em Piracicaba, SP
Não
tenho nada que seja da família, a não ser dois crucifixos que acredito terem
sido trazidos da Itália.
O
tio Bortolo Rodella, assegurou-me que o nono Luciano e o bisavô Bortolo
retornaram a Itália às vésperas da 1ª. Guerra mundial para cuidar de um problema
de saúde do nono. O citado tio disse-me ter visto um baú onde estava escrito o
nome do navio Príncipe di Udine. Por
algum tempo pensei ser este o navio da imigração da família ao Brasil, mas o
Príncipe di Udine só entrou em operação por volta de 1907. Unindo as coisas,
pude relacionar este navio à viagem de retorno à Itália.
Certamente, essa história toda
não foi uma grande epopéia, porque era comum a milhares de italianos. Não
encontrei brasões, nem antepassados nobres, não herdei dinheiro ou
propriedades, mas recebi um legado de fé, coragem, muito trabalho e retidão do
qual muito me orgulho.