FAMÍLIA ZANETTI

 

Albina Zanetti, minha bisavó, (1884-1932)

 

Considerando que o grosso da imigração italiana se deu a partir de 1890, os Zanetti chegaram relativamente cedo ao Brasil. No fim do século 19, o movimento abolicionista, associado à expansão cada vez maior do café, foi o estímulo para a vinda de imigrantes, principalmente italianos, para o município de Descalvado. O recenseamento de 1886 informa: "Neste município de Descalvado, vai superando, com grande facilidade, a transformação do trabalho, pois que aumenta, extraordinariamente, a colocação de imigrantes em propriedades agrícolas, sendo, talvez, dentro dos municípios da Província o que maior número de colonos conta".

Meus tataravôs maternos, Antonio Zanetti, 45 anos, e sua esposa Regina Furlan, 42, chegaram ao Brasil em 8 de Outubro de 1887, no vapor POITOU. Esse navio de 1.926 toneladas pertenceu à companhia francesa SGTM Lines – Societe Generale du Transports Maritimes e tinha 99 metros de comprimento e 10,6 metros de largura. Ele tinha apenas uma chaminé, dois mastros de vela e era construído em ferro com apenas uma hélice propulsora. Dois motores invertidos davam a ele a velocidade de 10 nós. Foi construído pelos estaleiros Malcolmson Brothers em Waterford na Irlanda.

Sua viagem de estréia aconteceu em Outubro de 1867 fazendo a rota Marselha (França) para o Rio de Janeiro, e a primeira viagem no ano seguinte na rota Marselha – Buenos Aires. Em 1870 seus motores invertidos foram substituídos por um motor composto. Em 1893 foi aposentado e transformado em sucata. Um segundo navio POITOU foi construído em 1903 e naufragou 4 anos mais tarde na costa do Uruguai.

A seguir o relato de Andrea Pozzobon, extraído do livro "Uma odisséia na América", de Zolá Franco Pozzobon, publicado pela Editora da Universidade de Caxias do Sul, 1997:

Quem escreve teve a desventura de embarcar no navio de nome Poitou, de triste memória e, como se pode ver por seu famoso nome, era francês, bem como o comandante e também a tripulação. Deveras, nossos amados irmãos franceses têm-nos sempre amado a nós italianos como pedrinhas nos sapatos, continuamente, nos dirigindo nomes ignóbeis e humilhantes: vadios, molengas, poltrões! Os passageiros engoliam os maus tratos e calavam. O alimento insuficiente e mal conservado era mais do que repugnante: aquele pó de café abominável, a água turva. A carne (à época, não existiam frigoríficos) em grande parte deteriorada e fedorenta. A água intragável era conservada num caixão de chumbo, de modo que estava impregnada com aquele metal e não se a tomava a copos, mas com canudinhos de chumbo. Coisa nauseabunda! Desse modo, a maioria, para não sugar as imundícies existentes no recipiente, colocava o lenço para servir de filtro.

Os Zanetti tinham por destino a Fazenda São Clemente, Descalvado, SP, a chamado de Antônio Segatto. Junto vieram os filhos: Giacomo, 21 anos; Virginia, 16; Itália, 12; Ernesto,7; Tereza, 5 e Albina, minha bisavó materna, com 3 anos. Estes dados foram coletados no livro de registro 006, página 228, da Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo. Eram procedentes da comune de Chiarano, província de Treviso, Itália. Foi lá que nasceu minha bisavó Albina em 14 de Janeiro de 1884.

Antonio Zanetti, filho de Jacintho e Maria Zanetti, faleceu na Fazenda São Clemente aos 67 anos, em 28 de Fevereiro de 1908. Os dados disponíveis permitem prever que ele deve ter nascido em 1841 ou 1842. Interessante observar que Antonio Zanetti chegou ao Brasil com filhos adultos. 

Regina Furlan faleceu em 14 de junho de 1902 aos 57 anos, conforme mencionado na certidão de óbito. Deve ter nascido, portanto, em 1845 e essa estimativa concorda com a idade mencionada no registro de chegada na Hospedaria dos Imigrantes. Era filha de Ângelo e Maria Furlan.

Antonio e Regina devem ter morado na Fazenda São Clemente sem nunca terem se mudado, pois faleceram lá. A filha deles Albina, minha bisavó, possivelmente conviveu na Fazenda São Clemente desde a infância com seu futuro marido, meu bisavô Manoel Couto.

Sobre a fazenda São Clemente encontrei o seguinte:

Antonio Casati, era italiano, natural de Arcore, Milão. Veio para o Brasil em 1873, com a idade de dezenove anos indo trabalhar em uma propriedade rural de Plínio Castro Prado, onde ficou algum tempo. Depois, mudou-se para Descalvado, instalou um armazém de Secos e Molhados, que era muito procurado pelos trabalhadores da zona rural. Depois adquiriu a Fazenda São Pedro, com mais de 500 alqueires, iniciando a compra e venda de terras, exceto as próprias para o plantio de café, que mantinha, dando início ao cultivo, que na época tinha muito valor. As fazendas: Batalha, São Clemente, São Domingos, São José e Grama, foram de sua propriedade.

Albina faleceu relativamente nova na fazenda Santa Rita, Piracicaba, SP, em 13 de Março de 1932, onde o marido Manoel era administrador.

Recentemente recebi um e-mail de uma pessoa de Campo Grande , MS. Conversando ao telefone, ele foi logo informando: Temos o mesmo tataravô, Antônio Zanetti. O irmão Giácomo de minha bisavó Albina, saiu de  Descalvado em direção ao Oeste do Estado de São Paulo e seus descendentes se dispersaram até o Mato Grosso do Sul.

 

VOLTAR